É extremamente interessante o que vem acontecendo na polêmica concorrência entre as gigantes Boeing e Airbus para o fornecimento de mais de 179 aeronaves reabastecedoras
É extremamente interessante o que vem acontecendo na polêmica concorrência entre as gigantes Boeing e Airbus para o fornecimento de mais de 179 aeronaves reabastecedoras, que irão substituir parte da frota de aeronaves Boeing KC-135 Stratotanker da USAF. Trata-se de um avião que entrou em serviço em 1957. Ao todo, 732 aviões-tanque do tipo foram adquiridos e utilizados. De acordo com a Força Aérea, o último KC-135 só será desativado em 2040. São estes os números, que denotam o potencial de mercado desse contrato, e a principal razão da polêmica que envolve o programa, de nome KC-X. É, sem dúvida alguma, o mais concorrido da história da comunidade de defesa norte-americana. E a razão de tanta dificuldade para que sucessivos governos consigam garantir à sua Força Aérea o que ela precisa está num único elemento: o fator político.
Nessa concorrência que já dura mais de uma década estão em jogo "apenas" 179 aviões de um total que certamente atingirá mais duas ou três centenas. E é evidente que quem vencer esse segmento da disputa certamente levará também o restante. Afinal de contas, os tempos das frotas com diversos tipos de aeronaves fazendo a mesma tarefa acabou. Ficou caro demais. Mesmo para os Estados Unidos.
Tecnicamente a USAF é plenamente capaz de decidir o que precisa. Operacionalmente ninguém sabe melhor do que ela as suas necessidades. No nível econômico, o "x" da questão está no custo de operação, o que é muito parecido em aeronaves – o Boeing KC-767 e o Airbus A-330 MRTT – que já se provaram no mercado civil. Isso porque o programa estipulou um teto de US$ 35 bilhões para o escolhido. Para levar, o pacote tem que caber no orçamento. Em março espera-se o anúncio do vencedor. Mas é bem possível que mesmo que ocorra uma decisão, a coisa não se resolva. Porque o programa deixou de ser mera licitação, transformando-se em verdadeira guerra política. Após idas, vindas, acusações e trapalhadas, o programa foi assolado por brigas e escandalos. Cada lado escolheu a dedo seus defensores na área política e tornou-se tão importante "não deixar o outro vencer" quanto "garantir a vitória de seu produto". Vale tudo: desde apaixonados clamores contra a perda de empregos que fábricas reais ou futuras terão que enfrentar, até o questionamento da posição dos governos em relação à sua maneira de bem representar o povo americano, seus valores – como a livre concorrência – e os procedimentos da licitação em si. Os campos aparentam estar em grande parte divididos entre democratas, a maioria dos quais prefere a escolha da Boeing, e os republicanos, em grande parte optando pelo Airbus. A briga, estimulada por todas as razões erradas, grande número das quais condenáveis, só prejudica a Força Aérea, que precisa dos aviões, e a razão de ser do programa, que pretende garantir a capacidade de combate norte-americana.
Essa politização exacerbada de um programa de reaparelhamento militar não é ....só de norte-americanos. Por aqui a tal decisão política também vem prejudicando nossa capacidade de defesa bem como o crescimento da indústria aeroespacial militar. Enquanto o governo não escolhe o que é melhor para a Força Aérea, e consequentemente para o Brasil, todo tipo de pressão política gerada externamente, e portanto com objetivos que não são exatamente os mesmos do Estado brasileiro, continuam sendo lançados ao vento. A Presidente Dilma Rousseff sabiamente escolheu informar-se amiúde dos desdobramentos de cada opção para nosso futuro como nação antes de tomar uma decisão. Trata-se de uma postura racional, responsável e em consonância com o que vem fazendo num início de governo que aparenta premiar a responsabilidade acima de tudo.
Fonte: Revista Força Aérea, março/2011
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